Preço pode cair ao nível de US$ 50 no ano

Melinda, especialista do Standard, diz que mineradoras vivem
"dilema dos prisioneiros", em referência à Teoria dos Jogos


Os motivos que levaram o minério de ferro - matéria-prima primordial da indústria do aço - a perder quase metade de seu valor no ano passado ainda estão presentes no mercado neste ano e podem levar o preço da commodity a novas quedas. A opinião é de Melinda Moore, analista do Standard Bank, em entrevista ao Valor.

Os motivos que levaram o minério de ferro - matéria-prima primordial da indústria do aço - a perder quase metade de seu valor no ano passado ainda estão presentes no mercado neste ano e podem levar o preço da commodity a novas quedas. A opinião é de Melinda Moore, analista do Standard Bank, em entrevista ao Valor.

A especialista segue pari passu os movimentos diários da commodity e assina relatórios que são acompanhados por participantes do setor em todo o mundo.

A desaceleração da demanda chinesa e o aumento de produção nas minas das maiores mineradoras do mundo, que têm baixos custos operacionais, podem levar o preço do minério ao nível de US$ 50 por tonelada, 20% abaixo do valor atual, aponta a especialista do Standard.

Na semana passada, a cotação do minério no mercado chinês, para o produto com 62% de teor de ferro, rondava na faixa dos US$ 62 a tonelada. Ontem, a cotação já tinha rompido a barreira dos US$ 60 a tonelada, negociada a US$ 59 - queda de 2,1% na comparação com o preço da sexta-feira, segundo relatório do Deutsche Bank, que menciona números das consultorias especializadas Platts e Metal Bulletin. No ano, o recuo já atinge 17,8%.

Na entrevista, Melinda faz referência à Teoria dos Jogos e diz que as mineradoras estão vivendo um "dilema de prisioneiros" ao cortar custos para se manterem competitivos. Separados em duas salas diferentes, dois presos têm a possibilidade de colaborar um com o outro, ou trair um ao outro. Os mineradores estariam em posição semelhante: podem elevar a produção e cortar os custos de produção ao máximo - derrubando assim a curva de custos e retirando competidores do mercado - ou manter a produção aos custos atuais.

O aumento da produção das maiores mineradoras do mundo, como a brasileira Vale e as australianas BHP Billiton e Rio Tinto, está fazendo com que a curva de preços do minério indique um valor mais baixo no futuro do que o mercado à vista, condição de mercado conhecida pelo termo "backwardation". A baixo, os principais trechos da entrevista:

Valor: Como está neste ano o ritmo de negócios no mercado global do minério de ferro?

Melinda Moore: Até agora, a demanda está muito fraca. A China exportou um grande volume de aço no segundo semestre do ano passado, mas a demanda, tanto do resto do mundo como da própria China, está enfraquecida agora, apesar de cortes de juros e de taxa de reserva de capital (RRR, na sigla em inglês). Estamos vendo as taxas de utilização de capacidade nas siderúrgicas chinesas caírem 10% desde o início deste ano. Em parte, por razões sazonais, mas isso também é parcialmente impactado pelo excesso de oferta em outros elos da cadeia de produção siderúrgica.

Valor: Houve alguma mudança no mercado mundial de minério de ferro, na comparação com o ano passado, quando os preços caíram de US$ 135 por tonelada para US$ 70 por tonelada?

Melinda: Obviamente, não esperamos que os preços caiam mais US$ 65 por tonelada neste ano. No entanto, com 100 milhões de toneladas de nova oferta prestes a chegar ao mercado, esperamos que novas pressões sobre os preços para US$ 50 por tonelada, até que os produtores de custos mais altos sejam forçados a sair (afetados por preços de petróleo, frete e câmbio).

Valor: Como estão hoje os estoques de minério de ferro no mundo?

Melinda: O volume de minério de ferro em estoque caiu dos picos de 115 a 118 milhões de toneladas em meados do ano passado para 96 a 98 milhões de toneladas agora. Apesar da queda, os estoques ainda representam o consumo de mais de 30 dias. Eu preferiria ver uma queda para pelo menos 80 milhões a 85 milhões de toneladas, que seria um nível "mais confortável".

Valor: Ainda há mineradoras fechando operações, ou os cortes a serem feitos já foram finalizados no ano passado?

Melinda: As mineradoras estão vivendo um "dilema dos prisioneiros". Precisam cortar custos para se manter competitivas mas mesmo assim sua posição relativa na curva de custos continua a mesma. Nós continuamos a esperar que mineradoras de alto custo de produção sejam desafiadas neste ano.

Valor: A oferta de minério de ferro no mundo continua a crescer neste ano e no próximo?

Melinda: Um grande número de mineradoras ainda está expandindo sua produção - daí a razão da curva do minério de fero estar em "backwardation". A Rio Tinto planeja trazer mais 50 milhões de toneladas ao mercado; a BHP, outras 15 milhões a 20 milhões de toneladas. Da mesma forma, a Vale também está elevando sua produção, enquanto algumas empresas menores ainda estão em fase de conclusão de projetos, como a CSN [Cia. Siderúrgica Nacional], a Samarco e a [chilena] CAP. Ou outras que estão começando a explorar novas minas, como a Anglo American, com o Minas-Rio, e a Roy Hills.

Valor: Você vê razões no mercado para o preço reagir neste ano?

Melinda: Com o mercado imobiliário mais fraco na China, exportadores com excesso de oferta e o cancelamento de descontos de 15% nos impostos de exportação na China para produtos de aço contendo boro, achamos que as siderúrgicas chinesas continuam sob pressão. Apesar das expectativas de crescimento do PIB da China, de 7%, não vemos nenhuma dessas situações deixando de existir na indústria siderúrgica chinesa. Enquanto mercados domésticos seguirem fracos em outros lugares, inclusive na Europa, não deveremos ver um crescimento da demanda por minério de ferro de mineradoras que dependem dos embarques para o mercado marítimo global neste ano.

Fonte: valor.com.br
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Varlei DisiutaVarlei Disiuta é graduado em Administração de Empresas, com Especialização em Marketing (pós-graduação). Atua na região Sul do Brasil e representa diferentes empresas mundiais, principalmente nos segmentos metalomecânico e plástico.

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