Os preços das commodities, que vieram ladeira abaixo nos últimos anos, parecem ter atingido o fundo do poço. A despeito dos fatores particulares que regem cada mercado, analistas em geral dizem acreditar que oferta e demanda estão caminhando para o equilíbrio, permitindo que a tendência de baixa fique para trás.
Não se deve, entretanto, esperar uma recuperação extraordinária dos preços. A economia global está em recuperação, mas o crescimento das grandes economias não deve voltar rapidamente para os patamares pré-crise. Além disso, alguns mercados ainda possuem obstáculos específicos que limitam a retomada dos preços.
“Em geral, acreditamos que os preços das commodities como um todo amplamente atingiram o piso”, afirma Nicholas Johnson, gestor de portfólio especializado em commodities da Pimco, que tem cerca de US$ 1,6 trilhão de ativos sob gestão. “Dito isso, não esperamos que uma grande recuperação nos preços a partir daqui”, afirma.
Analistas afirmam que o atual patamar dos preços das commodities já leva em consideração uma desaceleração da China, o que limita quedas adicionais nas cotações caso o país continue crescendo a um ritmo mais fraco. “O mercado já precifica um crescimento da China abaixo de 7%. A menos que haja uma forte desaceleração no crescimento da China, não esperamos impacto negativo nos preços das commodities”, diz Johnson.
Todavia, a estabilização da expansão chinesa em patamares mais baixos também limita uma recuperação mais forte nos preços das commodities. “Ninguém mais espera uma forte recuperação da China”, diz Neil Shearing, economista-chefe de emergentes da Capital Economics.
Se a China desacelerar mais que o esperado atualmente, Johnson, da Pimco, diz que os preços mais afetados seriam os dos metais básicos e minério de ferro. As commodities agrícolas seriam as menos prejudicadas.
Johnson explica que embora a visão geral do mercado seja de estabilização dos preços, interrompendo o longo declínio, há fatores específicos em cada mercado que ditarão o ritmo da recuperação de cada produto. “As perspectivas para as commodities continuam muito diferenciadas, em nossa visão”, diz o especialista da Pimco.
Para o mercado de petróleo, a Pimco projeta uma estabilização dos preços ao redor dos patamares atuais. Os estoques ainda altos da commodity e a possibilidade de o Irã aumentar a produção são fatores que ainda limitam uma alta nos preços, mas não há motivos para que as mínimas sejam reprisadas, explica Johnson.
No mercado do ouro, os preços estão amplamente ligados à variação das taxas de retorno de outros ativos considerados seguros, como os bônus soberanos. “Vimos recentemente um forte movimento de venda nos bônus soberanos e o ouro esteve mais estável, muito porque o metal está relativamente barato em relação a outros ativos de renda fixa”, diz Johnson. Entre os metais, ele vê chances de apreciação da platina. “[O preço da] platina estar abaixo do ouro é uma anomalia e portanto pensamos que ter platina é sensato”, disse ele.
Os preços das commodities agrícolas devem continuar oscilando em torno dos patamares atuais e os do gás natural estão baixos o suficiente para que o crescimento da oferta enfraqueça.
Sem uma retomada de fôlego nos preços das commodities, o impacto da estabilização desse mercado para os países emergentes tende a ser limitado, na opinião de Shearing. “Podemos ver uma pequena aceleração no crescimento dos emergentes no segundo trimestre deste ano, mas será muito modesto”, afirma.
No caso do Brasil, o economista da Capital Economics projeta que o crescimento permanecerá lento mesmo quando os preços das commodities começarem a subir. “O cenário geral do Brasil é de fraqueza em relação aos demais emergentes”, disse.
Fonte: VE