A desaceleração da economia da China, que tem provocado forte queda das cotações do minério de ferro no mercado internacional, pode acarretar grandes perdas aos fundos de pensão dos empregados da Caixa, da Petrobras e do Banco do Brasil. A Funcef, a Petros e a Previ, entidades de previdência complementar mantidas, respectivamente, pelas três estatais, fazem parte do bloco de controle e possuem participações expressivas no capital da Vale, maior exportadora de minério do mundo. Com isso, as oscilações no valor das ações da companhia têm influência no patrimônio das fundações. Pelo acordo de acionistas da mineradora, as fundações estão obrigadas a manter os investimentos até 2017.
Com a ritmo mais lento da economia da China, a demanda por minério de ferro está encolhendo, o que tem impacto significativo sobre os lucros e a cotação das ações da Vale. Entre 2000 e 2014, as importações chinesas da commodity cresceram a uma taxa média de 20,4%, mas o arrefecimento da produção de aço no país asiático reduzirá o volume de compra da matéria-prima. Pelas contas de analistas que acompanham esse mercado, a tendência é de que a taxa média de crescimento das aquisições de minério encolha para 1,2% entre 2015 e 2019.
A situação adversa já provocou forte desvalorização das ações da mineradora entre 2014 e a última sexta-feira, 15 de maio, data do último pregão da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&Fbovespa). Os papéis preferenciais, que eram cotados a R$ 29,36 em 2 de janeiro de 2014, caíram para R$ 17,79, uma retração de 39,41%. No mesmo período, as ordinárias passaram de R$ 32,59 para R$ 21,28, uma queda de 34,71%. A retração dos preços já provocou redução importante no valor do patrimônio dos fundos. Somente na Funcef, as perdas chegam a R$ 3,7 bilhões nos últimos dois anos.
A redução na demanda da China influencia de forma decisiva o mercado internacional de minério de ferro, uma vez que o país responde por 58% das necessidades mundiais da commodity. Desde 2014, os investimentos no setor imobiliário na China começaram a desacelerar em razão da contração nas vendas, levando à formação de estoques e à redução nas compras de minério para a produção do aço usado nos canteiros de obras.
Segundo analistas, o preço do mineral caiu 37% de 2011 até 1º de abril passado. Neste ano, a Vale pretende fazer investimentos de US$ 10 bilhões, mas as incertezas em relação ao preço da commodity podem trazer problemas. Para superar as adversidades, a companhia busca simplificar a estrutura corporativa, aumentar a produtividade, adequar custos e projetos, além de concluir desinvestimentos e parcerias em curso, como por exemplo, em operações de carvão.
Em exposição feita a dirigentes dos fundos, executivos da Vale mencionaram ainda possibilidade de, para angariar recursos, realizar uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) de um participação minoritária do negócio de metais básicos. Ainda não há uma definição da companhia sobre o assunto, mas estudos estão em curso.
Impactos
A desvalorização das ações da Vale nos últimos meses atingiu em cheio a Funcef. O fundo dos empregados da Caixa tem 10,35% do patrimônio investido na mineradora, cerca de R$ 5,6 bilhões. Com a queda no valor dos papéis entre 2012 e 2014, a perda foi de R$ 3,7 bilhões. Esse movimento influenciou o deficit atuarial de R$ 5,6 bilhões acumulado pela entidade fechada de previdência complementar, pois 67% do prejuízo decorre da queda no valor do investimento.
Apesar do cenário adverso, a Funcef tem expectativas positivas a longo prazo. A entidade avalia, contudo, que, entre 2015 e 2016, não há previsão de que o preço do minério de ferro volte aos patamares de meados de 2011, quando alcançou US$ 187 por tonelada. Conforme o fundo de pensão, a Vale vem revisando seus planos de negócios e se desfazendo de ativos que estão desassociados do ramo de mineração, com o objetivo de focar no negócio principal. “Dessa forma, a empresa está se adaptando à nova realidade macroeconômica, em que o seu principal cliente, a China, tem divulgado redução da taxa de crescimento do PIB e, consequentemente, de sua demanda por minério de ferro”, informou a Funcef em nota.
A Previ possui 20% do patrimônio investido na Vale, cerca de R$ 32 bilhões. A entidade de previdência esclareceu que, por se tratar, em sua maioria, de recursos aplicados na Valepar de forma indireta, por meio da Litel, braço de investimentos do BB e da Previ, o ativo é avaliado a valor econômico. Além disso, destacou que os ativos ainda mantém a forte valorização acumulada em anos precedentes. “A título de ilustração, considerando-se as cotações das ações ordinárias da Vale na Bovespa de maio de 1997 a maio de 2015, a valorização dos papéis da companhia foi da ordem de 2.200% no período”, destacou a fundação, em nota.
Apesar dos resultados positivos dos anos anteriores, entre 2013 e 2014, o fundo de pensão dos empregados do Banco Brasil perdeu R$ 5 bilhões do patrimônio com a desvalorização das ações da Vale. A entidade afirmou que, a despeito do cenário desafiador nos mercados interno e externo, com preços do minério de ferro em baixa histórica e desaceleração chinesa, continua confiando plenamente na capacidade de geração de valor e sustentabilidade da Vale ao longo dos próximos anos. O fundo de pensão informou que os gestores da mineradora vêm realizando ajustes no sentido de otimizar custos e melhorar a eficiência operacional da companhia, visando a um novo ciclo de crescimento.
A Petros informou que o aporte na Vale representa 5% do total de investimentos, cerca de R$ 4,03 bilhões. Entretanto, a fundação observou que, como os resultados de 2014 ainda não foram analisados e validados pelos conselhos deliberativo e fiscal, ainda não pode se manifestar ou fazer qualquer comentário sobre as demonstrações contábeis do ano passado Pela legislação vigente, o fundo dos empregados da Petrobras tem até 31 de julho para enviar as informações à Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), o regulador do sistema.
Fonte: Diário de Pernambuco