Gestores buscam ações de empresas bem geridas e que sofrem pouco com a desaceleração econômica
Se 2014 não foi um ano nada fácil para a renda variável, dada uma eleição presidencial concorrida, neste ano novamente não há muito refresco. Com uma economia enfraquecida, é preciso esforçar-se para encontrar ações que consigam sair ilesas desse cenário. Esta é a fórmula dos gestores dos melhores fundos de ações, que estão apostando em empresas com boa gestão, ganhos de produtividade e pouco correlacionadas com a atividade econômica.
"Não acredito numa melhora da economia antes do segundo semestre de 2016. Isso sem contar que essa recuperação deve ser lenta, muito lenta" , diz Pedro Sales, gestor de ações Brasil da Verde Asset Management. "Portanto, com esse cenário interno pessimista, é hora mais do que nunca de buscar investimentos que tenham boa performance e uma boa história para contar, independentemente de como estará a economia brasileira", completa.
Itaú e Equatorial Energia são dois nomes bastante citados pelos gestores dentro dessa estratégia de boa gestão e menor correlação com a economia. "O Itaú tem uma relação muito mais baixa com a economia do que se imagina", afirma Sales.
Ele lembra que mais da metade do resultado do banco vem de serviços como cartão de crédito, seguros e taxas, todos com uma resiliência maior à desaceleração econômica, e que nem mesmo os empréstimos devem sofrer tanto, uma vez que a piora vem ocorrendo de forma lenta, dando tempo suficiente para o banco se pre parar para uma retração no crédito e aumento na inadimplência.
A Equatorial Energia também é um caso que combina gestão competente com um perfil mais defensivo, considera Sales. A companhia comprou duas empresas quebradas - a Cemar e a Celpa -, que foram reestruturadas e agora dão resultados. Sales lembra que, por ser uma distribuidora de energia, a Equatorial está protegida pela
regulação: a cada quatro anos, a revisão tarifária compensa perdas resultantes do cenário macroeconômico.
Ganhos também vieram de ações de companhias estrangeiras. Para gestores, a tendência da economia americana era melhorar, enquanto a brasileira deveria piorar com reversão do ciclo de alta das commodities
Bons casos de gestão e que estão protegidos do risco governamental também têm sido a estratégia da gestora BRZ no fundo Equity Fundamental. Alguns exemplos estão nos setores bancário, de tecnologia, embalagens e algumas exportadoras, como os frigoríficos. Na ponta contrária, o setor de educação é um exemplo de perda de atratividade por conta das mudanças de regras no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), explica o sócio-gestor da BRZ Investimentos, Tiago Cunha.
O cenário macroeconômico conturbado, aliado à rápida valorização de uma série de ações, tem feito alguns gestores colocarem o pé no freio e manterem percentuais maiores dos fundos em caixa. O Bogari Value tem hoje entre 25% e 30% do patrimônio em caixa (muito próximo dos 33%, que é o máximo permitido nos fundos de ações), acima da sua média histórica (entre 15% e 20%). "A bolsa está dividida de uma forma complicada neste momento. Há os papéis que têm fundamento para subir, e já subiram e, portanto, ficaram caros. E os papéis depreciados, de empresas com poucos fundamentos, e que, portanto, não têm motivo nenhum para subir", diz o sócio-gestor da Bogari Capital, Érico Argolo.
A fórmula do sucesso da Bogari em 2014 foi resistir à tentação dos ganhos rápidos com ações cujo desempenho estivesse correlacionado com o resultado das eleições. Entre os papéis mais importantes do Bogari Value estão Itaú, Cielo, BB Seguridade, Abril Educação e Suzano Papel e Celulose. Mas os ganhos com renda variável não vieram apenas de ações brasileiras. Assim como o nome já diz, os resultados do Teorema Investimento no Exterior vieram de companhias americanas. "Em 2010, quando criamos o fundo, os múltiplos das bolsas brasileira e americana estavam muito próximos, o que não nos parecia fazer sentido", diz o sócio-gestor da Teorema Investimentos, Guilherme Affonso Ferreira. Para ele, o ciclo de alta das commodities importantes para o Brasil estava perto do fim, enquanto a economia americana devia estar no seu pior momento, e a tendência era melhorar. Portanto, era hora de comprar ações americanas e não brasileiras.
A carteira ainda ganhou com o movimento de alta do dólar sobre o real. Os papéis americanos foram de multinacionais como Caterpillar, Citibank e Johnson&Johnson, da Berkshire Hathaway (do megainvestidor Warren Buffett) e cotas de fundos de índices de ações. Para este ano, Ferreira ainda acredita numa valorização da bolsa americana e do dólar sobre o real.
Fonte: Valor