Abraço ambiental



Após décadas de intensa poluição, o grupo dos sete países mais ricos do mundo decide reduzir o consumo de petróleo. Como fica o pré-sal brasileiro?


As vésperas da crise mundial, em agosto de 2008, o então presidente Lula disse que o Brasil havia tirado um "bilhete premiado" com a descoberta das bilionárias reservas de petróleo da camada pré-sal. Sete anos depois, no entanto, o cenário internacional mudou bastante. Não apenas pela derrocada do preço do barril do petróleo, que na época custava mais de US$ 100, e hoje vale a metade disso, mas principalmente pelo avanço das pressões dos ambientalistas contra o uso dos combustíveis fósseis. Na segunda-feira 8, na Alemanha, o tema ganhou relevância e urgência com a declaração conjunta do grupo dos sete países mais ricos do mundo (G-7) sobre o banimento do uso de petróleo, gás natural e carvão até o fim deste século - com reduções de 40% a 70% até 2050 em relação aos níveis de 2010. Embora as intenções de Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Alemanha, Itália, França e Japão de "descarbonizar" a economia ainda se pareçam mais com promessas ao vento, feitas para apaziguar a arquibancada, do que com compromissos registrados em cartório, há uma clara mudança na forma com que políticos, empresários e consumidores encaram o problema do aquecimento global. Para o Brasil, resta a reflexão sobre o que fazer com o pré-sal.

A queima de combustíveis fósseis libera na atmosfera dióxido de carbono, um dos responsáveis pelo efeito estufa. Há um consenso mundial de que a temperatura média da Terra não pode subir mais do que dois graus Celsius neste século. No entanto, se todas as reservas já conhecidas de gás natural, petróleo e carvão forem utilizadas, esse limite será facilmente ultrapassado (ver quadro na pág. 30). É nesse contexto, em que os ambientalistas tendem a ganhar cada vez mais apoio da opinião pública, que o Brasil vai extrair o óleo da camada pré-sal, cuja reserva estimada é de 60 bilhões de barris de óleo. "A Petrobras deveria acelerar a extração de petróleo do pré-sal", diz o físico José Goldemberg, um dos maiores especialistas no assunto.
"Daqui a vinte anos, o cenário será completamente adverso para o petróleo."

Para o advogado Eduardo Felipe Matias, responsável pela área de sustentabilidade do escritório Nogueira, Elias, Laskowski e Matias, embora tenha um "bilhete premiado" em mãos, o governo brasileiro não deveria se omitir e muito menos cultivar uma postura de oposição aos avanços das negociações climáticas. "O combate aos combustíveis fósseis é uma tendência inexorável no mundo inteiro", diz Matias. "O Brasil tem condições de ser protagonista nesse debate, incluindo florestas, energia solar, energia eólica e etanol." Os especialistas ouvidos pela DINHEIRO ressaltam, porém, que será intensificada a queda de braço entre os países desenvolvidos, que já poluíram bastante, e as nações em desenvolvimento, que acham ter direito a seu quinhão de poluição. Sem a união de todos, as metas globais jamais serão atingidas. "O G-7 é responsável por 24% das emissões no mundo e a China, 22%. Somando, não dá nem 50%", diz o professor Goldemberg. "Se não combinar com os países em desenvolvimento, não adianta nada."

Após o fracasso do Protocolo de Kyoto, em 1997, cujas metas foram totalmente abandonadas, a esperança dos ambientalistas é de que um acordo global seja firmado na 21ª Conferência do Clima (COP-21), marcada para o começo de dezembro, em Paris. Muitos ativistas consideraram histórica a posição do G-7 tomada na semana passada "A visão de um futuro de energia 100% renovável está começando a tomar forma", declarou, em comunicado, o Greenpeace. No entanto, ninguém se arrisca a prever qual será o desfecho da reunião na capital francesa. De concreto, até agora, os países ricos anunciaram a captação anual de US$100 bilhões, até 2020, para auxiliar as nações em desenvolvimento a mudar sua matriz energética e a lidar com eventos climáticos extremos.
Segundo a Agência Internacional de Energia, aproximadamente 87% de todo o combustível consumido no mundo é de origem fóssil.

A pressão por uma economia cada vez mais verde já está causando transformações no mundo corporativo. Além da busca por modelos de produção mais sustentáveis, ancorados em práticas como a reutilização de água e a reciclagem de resíduos -, muitas empresas estão sendo levadas a repensar o seu modelo de negócio ou os próprios produtos. Isso significa desde uma simples mudança no meio de transporte que a companhia holandesa de entregas TNT adota no centro de São Paulo - trocou o caminhão pela bicicleta - até os investimentos gigantescos que as montadoras estão destinando para a produção de veículos elétricos.

Com sede em Stuttgart, na Alemanha, a Porsche decidiu oferecer aos consumidores, nos próximos dois ou três anos, todos seus modelos com uma versão híbrida - motor movido a gasolina e a energia elétrica. "É preciso aumentar a oferta de veículos verdes para baratear o custo", diz Marcel Visconde, presidente da Porsche no Brasil. "Nesse pontapé inicial, é fundamental que os governos deem subsídios para a indústria." Há no setor automotivo uma enorme preocupação com a falta de interesse das novas gerações em adquirir um carro. Pior, ainda, se o consumidor do futuro associar o produto a um problema climático. Não foi à toa que o ex-vice-presidente americano Al Gore, um conhecido ativista da causa ambiental, indagou no fim do ano passado, em palestra no Brasil: "O automóvel é o novo cigarro?


Fonte: Isto É Dinheiro
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Varlei DisiutaVarlei Disiuta é graduado em Administração de Empresas, com Especialização em Marketing (pós-graduação). Atua na região Sul do Brasil e representa diferentes empresas mundiais, principalmente nos segmentos metalomecânico e plástico.

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